O futuro dos meios de pagamento

O futuro está a menos de um dia de distância, e quando ele chegar, trará meios de pagamento cada vez mais inovadores.
Dentre tantas tendências inovadoras que estão se tornando padrões conhecidos e utilizados atualmente, em um sistema majoritariamente capitalista, o desenvolvimento de novos meios de realizar compras, investimentos, transferências e pagamentos em geral é um dos principais objetivos de instituições governamentais, públicas e privadas das grandes e pequenas nações ao redor do mundo.
De acordo com análises da PwC, rede internacional de firmas de consultoria e auditoria, em conjunto com a Strategy&, no ano de 2021 foi atingido o marco de 73 bilhões de compras virtuais utilizando meios de pagamento digitais nos países da América Latina.
Por mais significativo que esse valor seja hoje, é apenas um prelúdio do valor estimado para o volume no ano de 2025 em que serão realizadas cerca de 111 bilhões de compras virtuais utilizando meios de pagamento digitais. Um aumento de 52% apenas nos países da América Latina, e estimado para crescer ainda mais de 126% até o ano de 2030, onde se prevê um volume transacional de 165 bilhões.
Nos mesmos estudos, no ano de 2021, estava consolidada uma média de 1 trilhão de dólares anuais em faturamento advindo de pagamentos exclusivamente digitais, valor estimado para crescer até 1,9 trilhão até o ano de 2030.
Ao redor de diferentes países e regiões do globo, as transações financeiras que não utilizarão o antes tradicional dinheiro físico — em espécie — tendem a crescer em mais que o dobro dos valores do período analisado — destaque para a região Ásia-Pacífico e para a África.

Fonte: Modelo global de pagamentos da PwC Strategy&, 2021
Open Banking e Open Finance
Mirando no aumento dessas transações e no melhor acesso a elas, já são uma realidade hoje os modelos de Open Banking e Open Finance que tanto eram desejados para desburocratizar e aproveitar-se do desenvolvimento regulatório e tecnológico internacional para facilitar a comunicação entre diferentes entidades financeiras.
Implementado em nações como o Brasil e o Reino Unido, o Open Banking é um sistema que permite que o cliente pegue todas as suas informações registradas em uma organização bancária e leve-as para qualquer outra organização bancária que seja de sua preferência da forma mais ágil e facilitada possível, sem ter de começar o processo do zero com a nova instituição.
No Open Banking é possível que o cliente de uma instituição bancária compartilhe e acesse os seus dados por meio de outras instituições bancárias de modo praticamente automatizado. Dessa forma, os clientes podem visualizar todas as contas bancárias, seus respectivos saldos e extratos em um só lugar, acompanhar seus investimentos e movimentar suas diferentes economias de qualquer sistema regulado em que esteja cadastrado.
Quando falamos de Open Finance, nos referimos a um modelo replicado, contudo, mais amplo do que o Open Banking inicial e que permite, então, que os dados e as funcionalidades das contas dos clientes, se autorizado por eles, sejam acessados por mais instituições e produtos que não sejam exclusivamente dos grandes bancos e das fintechs presentes no Open Banking.
São instituições das áreas de corretagem de seguros, previdência, fundos de pensão e plataformas de investimentos.
É a partir dessas implementações que somos capazes, por exemplo, de usar o saldo da conta de um de nossos bancos para pagar contas que estão em outros bancos em que temos conta, de forma automática, sem que tenhamos que repassar os valores da conta de uma instituição para a outra antes de realizar o pagamento efetivamente.
Mas essa forma aberta, transparente e segura de acesso e movimentação simplificada de nossas próprias informações financeiras é uma tendência que se concretizou e virou um padrão que já existe no presente. Então, como será o futuro?
Cada vez mais, as pessoas buscam praticidade e agilidade em seu cotidiano.
Contactless
No Brasil, o uso de cartões de crédito, débito e pré-pagos por aproximação, ou seja, com tecnologias contactless, onde não há a necessidade de contato físico com outro dispositivo, já atingiram R$ 235 bilhões e cresceram 344,5% no primeiro semestre de 2022 em comparação com o período em 2021, segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços de 2022.
Graças à tecnologia NFC (Near Field Communication), dispositivos distintos podem trocar informações de forma rápida e segura, sem encostarem um no outro e sem gasto de energia elétrica direta.
Podem ser cartões, tags, etiquetas grudadas em outros dispositivos para trocas de diferentes informações, dentre outros.
Mesmo com crescimento nessa tendência, os novos meios de pagamento digitais permitem que os consumidores não tenham mais a obrigação de usar dispositivos, sistemas e objetos adicionais aos que já usam atualmente para realizar e gerenciar pagamentos.
As pessoas são seus próprios meios de pagamento.
Biometria
Sistemas de biometria como o Amazon One, por exemplo, integram novas modalidades em que não precisaremos carregar carteiras, cartões físicos, tags e nem mesmo nossos smartphones. Poderemos usar, simplesmente, a palma de nossas mãos.
Vinculando o reconhecimento da biometria de uma pessoa com suas respectivas contas digitais, essa nova modalidade nos permite realizar os pagamentos apenas passando a mão por cima de um sensor onde confirmaremos a nossa compra ou transferência financeira de modo contactless, sem nem mesmo precisar entrar em contato físico com os sensores de pagamento.

Fonte: Amazon, 2022
Mesmo em um cenário onde ainda serão usados smartphones como os de hoje, a interação e a gama de possibilidades para realizar pagamentos de forma mais intuitiva, rápida e segura será diferente e maior, incluindo novos métodos de identificação das contas e dos valores a serem repassados.
QR Codes
A China é reconhecida como o país que inventou o dinheiro em papel. Em 2019, o país asiático implementou os QR Codes como meios formais de pagamento em instituições públicas e privadas, substituindo e inovando na sua própria invenção inicial.
Segundo análise da UnionPay em 2021, cerca de 85% dos chineses que possuem smartphone já usam o QR Code para efetuar o pagamento de compras e transferências pessoais.

Fonte: Nikkei Asia, 2019
Essa tecnologia serve com uma identificação visual criptografada para facilitar o caminho até vários conjuntos de outras informações como textos e números que teriam de ser redigidos por extenso e lembrados a todo o momento. No caso de pagamentos, por exemplo, servem para compilar os vários dígitos que identificam a conta bancária e até a quantia da fatura de alguém que deseja receber os valores, no formato de uma simples imagem reconhecida pelas câmeras de dispositivos inteligentes como smartphones.
Em certas regiões, o meio de pagamento é tão popular que mesmo quem não possui moradia fixa, tem condições de abrir uma conta para recebimento de pagamentos, e, então, com o uso de uma simples imagem do QR Code, receber e movimentar valores para essa conta de forma instantânea para suas necessidades.

Fonte: Le Monde, 2019
No contexto da globalização, atrelada ao aumento do fenômeno da digitalização, temos cada vez mais:
· Pessoas que compram de países diferentes
· Pessoas que utilizam moedas novas e diferentes das habituais
Visando atender a esses públicos com diferentes necessidades internacionais e repletas de volatilidade, projetos são implementados em larga escala para remover barreiras e encurtar o tempo das transações.
Lançado no Brasil no ano de 2020, o meio de pagamento PIX tornou-se um marco brasileiro de pagamentos e transferências instantâneas e digitais.
Antes mesmo do PIX brasileiro, no ano de 2007 já estava em vigor em uma lista de países da África o M-Pesa, modelo similar ao que temos hoje com o PIX para pagamentos instantâneos e digitais.
Pagamentos instantâneos e digitais internacionais
Nos mesmos moldes do PIX brasileiro e do M-Pesa, atualmente está sendo construída a proposta do projeto Nexus, que prevê os mesmos benefícios desses outros meios de pagamento instantâneos e digitais, mas com a característica de ser implementado de forma global.
Envolvendo 60 países para a implementação do sistema digital, instantâneo e internacional de pagamentos de acordo com a listagem do Bank for International Settlements em 2021, o projeto Nexus é uma iniciativa que busca promover mais:
· Movimentações financeiras rápidas e mundialmente acessíveis;
· Rastreabilidade e segurança da informação;
· Redução de custos operacionais.
Cross Border
Unida a essa intenção de projetos e regulações globais para reduzir burocracias e remover impedimentos internacionais de caráter taxativo e nichado, o recente fenômeno do Cross Border (pagamentos sem fronteiras ou pagamentos que cruzam fronteiras) tem movimentado cada vez mais valores e implementações de melhorias.
Só no Brasil, de acordo com análises da Ebit|Nielsen em 2020, as transações com empresas estrangeiras movimentaram, no ano, cerca de R$ 22,7 bilhões.
Para permitir valores trocados internacionalmente em níveis mais atrativos, são promovidas, dentro desse fenômeno, a cooperação entre entidades reguladoras, as instituições bancárias, os sistemas de logística e bandeiras de pagamento que permitem transações internacionais com moedas, provedores e taxas de câmbio distintas e mais satisfatórias para os envolvidos.
Esses benefícios são elaborados para servirem de acordo com a livre escolha do cliente, independentemente da fronteira ou região onde ele se encontra no momento ou onde os produtos e serviços que ele está comprando estão sediados.
Dentre alguns benefícios internacionais, temos:
· Taxas de câmbio ZERADAS ou mais atrativas;
· Pagamento por moedas diferentes do país de origem ou de destino;
· Ampliação da cadeia de clientes internacionais para as empresas.
Além de tudo isso, um fator que muda mais rapidamente em quantidade e em qualidade são as novas moedas criadas e utilizadas em massa diariamente.
Criptomoedas e novas moedas
Por volta do ano de 1776, foi implementada a moeda americana Dólar. No ano de 2008 foi lançada a criptomoeda Bitcoin, seguida pelo Ethereum em 2013 e mais uma centena de outros ativos digitais usados como moedas de pagamento formais no mundo moderno.
Esses ativos, ainda que sofram grande volatilidade de valor em boa parte do tempo, permitem que independentemente do país em que você estiver e do país que você tem conta bancária, se possuir uma carteira digital com criptomoedas, é possível utilizar esse novo dinheiro para tratar de várias questões financeiras de um modo descentralizado das gigantes entidades controladoras.
CBDC
Justamente pensando nos benefícios das criptomoedas e na resolução da questão da volatilidade de valor, muitas vezes vista como um problema, já está sendo massificado o conceito e os respectivos projetos de CBDC, o Central Bank Digital Currency ou Moeda digital do Banco Central.
A proposta do conceito de CBDC é implementar moedas digitais estáveis emitidas e reguladas pelo próprio banco central de cada país.
Basicamente, é o dinheiro oficial emitido e fiscalizado pela nação, mas em vez de ser emitido de forma física, como o tradicional papel-moeda, agora é digital.
Isso promove para cada nação:
· Economia operacional e ambiental;
· Menor volatilidade que as moedas e criptomoedas não reguladas;
· Auditoria fiscal;
· Rastreabilidade;
· Segurança;
· Diminuição de crimes financeiros como pirâmides financeiras, lavagem de dinheiro, roubo e corrupção;
· Regulação e regularização entre diferentes entidades, meios internos e até externos ao país.
Além das potências Brasil, Estados Unidos e China, de acordo com a listagem do Atlantic Council Geoeconomics Center, em 2022, haviam sido listados mais de 103 países já desenvolvendo seus próprios CBDCs, sendo que já existem, hoje, nações que lançaram suas próprias moedas digitais reguladas no modelo CBDC, como, por exemplo, Bahamas, São Cristóvão e Névis, Antígua e Barbuda, Santa Lúcia e Granada.
Blockchain
Usando as avançadas tecnologias de Blockchain unidas ao conceito de CBDC ou até de forma independente a esse modelo de regulação nacional, como já é feito atualmente, as operações financeiras nacionais e internacionais realizadas digitalmente nas cadeias de blocos protocoladas e aceitas pelos seus usuários permitem benefícios como:
· Algoritmos transparentes e auditáveis;
· Operação ininterrupta / constante;
· Registros criptografados e seguros;
· Imutabilidade dos registros;
· Automação de registros e de pagamentos;
· Rastreabilidade de registros e segurança da informação;
· Interconexão com sistemas globais e compartilhamento de dados úteis e rápidos.
Cada vez mais cenários favoráveis para públicos que antes não eram contemplados por serviços financeiros que acompanhassem os novos padrões de comportamento, tecnologia, segurança e consumo das populações são construídos e evoluídos internacionalmente.
Com tantas possibilidades e tendências inovadoras se tornando padrões aceitos pelas variadas populações, e modificados com o passar do tempo, seja lá qual for o modelo que de fato se prove mais benéfico e duradouro para todos, o futuro dos meios de pagamento inclui cenários em que mais pessoas terão acesso a uma variedade maior de moedas e opções de dinheiro, de modo mais rápido, prático e seguro, onde quer que estejam, tudo por meio do mundo progressivamente mais digital e interconectado entre dispositivos ou até no próprio corpo.
Gabriel Tessarini
Texto publicado originalmente pelo autor no portal da Prensa.li em 9 de janeiro de 2023.